Editorial

O compromisso da APEES com uma cultura científica democrática e ética

Já aqui me pronunciei várias vezes sobre facto de o papel das editoras académicas estar a mudar acentuadamente como forma de responderem a novas necessidades dos atores do sistema de ciência, ensino superior e inovação, tal como este hoje é configurado pelas autoridades europeias e nacionais. Refiro-me concretamente à necessidade de os professores e investigadores do ensino superior poderem publicar para manter-se e progredir nas carreiras e, desse modo, os projetos de investigação em que participam e as suas instituições poderem ser avaliados positivamente pelas agências competentes, tanto nacionais como internacionais.

No contexto da cultura científica contemporânea, publicar é fundamental, o que se compreende, porque é próprio de quem faz ciência partilhar os seus conhecimentos.

Para dar alguns exemplos históricos, Galileu, Copérnico e Kepler tiveram a preocupação de partilhar os seus conhecimentos através dos meios ao seu alcance.

Só existe e tem valor o que se publica. Os meios de o fazer é que mudam ao longo do tempo.

Nas últimas décadas, a cultura científica anglo-saxónica esteve sempre à frente da cultura científica europeia continental nas respostas a esta preocupação, tendo instituído mecanismos de avaliação e disseminação do conhecimento que se mostraram eficientes, ainda que não perfeitos.

Poderá parecer artificial a consideração que faço da existência de diferentes culturas científicas no mundo, mas é um facto que elas existiram e continuam a existir, se bem que assistamos hoje a uma acentuada convergência de práticas à escala global.

Aliás, se há um globalismo particularmente bem-sucedido, é na área da ciência e ensino superior, dada a adoção, nos últimos anos, das mesmas práticas por instituições de todo o mundo, independentemente dos regimes políticos dos países em que estão sediadas. Prova do que falo é a entrada em força de várias instituições de ensino superior asiáticas nos rankings internacionais, porque levam a sério aquelas que são tidas como as melhores práticas internacionais em matéria de organização da ciência e disseminação do conhecimento.

A última vaga de modernização do sistema iniciou-se com a referida prática da avaliação, tanto de pessoas como de projetos científicos e instituições. Trata-se, mais uma vez, de uma tendência com origem nas práticas anglo-saxónicas, mas em que outros países têm intervindo ativamente.

O acesso aberto e, mais recentemente, a ciência aberta são dois domínios relacionados em que vários países europeus e a própria União Europeia assumiram um protagonismo relevante. Com efeito, após a adoção pela comunidade científica das práticas anglo-saxónicas em matéria de publicação em revistas indexadas e com avaliação por pares, insiste-se, há anos, na necessidade de adoção de práticas mais amigas da ciência, por forma a às grandes editoras académicas comerciais o monopólio da disseminação do conhecimento.

Esta estratégia que, além de europeia, envolve também os países anglo-saxónicos, com o mesmo objetivo de tornar o conhecimento acessível a todos, tem escolhos. Uma das dificuldades prende-se com o extraordinário crescimento das publicações predatórias, ou seja, publicações em que se faz uso das novas possibilidades tecnológicas para se agir de modo fraudulento.

Os detratores das políticas de ciência aberta têm insistido muito neste ponto, com o argumento de que a nova tendência cria espaços de desregulação que permitem a entrada intrusiva de atores cujos comportamentos não são controláveis e são muito prejudiciais.

O problema é real e não pode ser ignorado. Bell, Claassen, Nyahodza, Raju e Stetka publicaram um artigo intitulado “Predatory Publishing” (Bell et al., 2018) em que dão conta das muitas situações de fraude científica provocadas pelo uso dos novos meios digitais. Mais: praticam aquilo a que se pode chamar “ciência de denúncia”, que se caracteriza pela indicação, em trabalhos científicos, de casos concretos de pessoas e organizações que usam práticas fraudulentas. É o caso do professor e investigador checo Wadim Stielkowski, que se arrogou falsamente ser o autor de 17 monografias e 60 artigos, num período de três anos. Na verdade, essas publicações resultaram de uma violação grosseira das regras de produção científica visando a maximização das publicações. E como este há vários outros casos que vêm sendo denunciados em que os falsos académicos contam com a colaboração de editores sem escrúpulos que publicam artigos falsos, roubados, sem verificação por pares, etc.

O curioso é que Stielkowski, apesar de ter sido despedido da Charles University, de Praga, continua a ensinar e a publicar. Muitos outros há que vêm sendo envolvidos em situações de fraude ao aceitarem, por exemplo, pagar para publicar ou figurar em conselhos científicos de revistas sem credibilidade científica, nem sempre se apercebendo, o que é muito negativo, do que está a acontecer.

Este tema exige uma reflexão aprofundada, mas quero chamar a atenção para um ponto que é crucial para a APEES: o nosso compromisso com uma ciência democrática e ética obriga-nos a assumir boas práticas e a rejeitar as erradas. Esta questão tem, desde logo, uma dimensão informativa do que são as boas e as más práticas, ficando a promessa de que a ela tornaremos em breve.

João Caetano

Presidente da direção da APEES

NOVIDADES EDITORIAIS

	Gramática de Língua Chinesa para Falantes de Português  Autores: Ran Mai, Carlos Morais, Urbana Pereira Ano: 2019 ISBN: 978-972-789-587-8 Editor: UA Editora +informação
	EM DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Autor: Paulo Pinto de Albuquerque Ano: 2019 ISBN: 9789725406496 Editor: Universidade Católica Editora +informação
	O PAPEL DA VÍTIMA NO PROCESSO PENAL PORTUGUÊS Autora: Filipa Pereira Ano: 2019 ISBN: 9789725406533 Editor: Universidade Católica Editora +informação
	CRIME DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS E DO FINANCIAMENTO AO TERRORISMO - a realidade angolana | MONEY LAUNDERING AND TERRORISM FINANCING - The Angolan Reality (edição bilingue e em retroverso) Autor: Benja Satula Ano: 2019 ISBN: 9789725406250 Editor: Universidade Católica Editora +informação
	DIREITO DO DESPORTO VOL. 2  Autores: Andreu Camps i Povill; Armindo Ribeiro Mendes; Artur Flamínio da Silva; Francesc Solanellas; Henrique Rodrigues; Henrique Sousa Antunes; José Luís Andrade; José M. Damião da Cunha; José Manuel Meirim; Rodrigo Cavaleiro; Tito Crespo Ano: 2019 ISBN: 9789725406366 Editor: Universidade Católica Editora +informação
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	O SETOR DOS MEDIA NO ESPAÇO LUSÓFONO  Coordenadores: Rita Figueiras; Nelson Ribeiro Ano: 2019 ISBN: 9789725406465 Editor: Universidade Católica Editora +informação
	CATÓLICA LAW REVIEW, VOLUME III, N.º1 JANEIRO 2019 DIREITO PÚBLICO Ano: 2019 ISBN: 2183-9336 07 Editor: Universidade Católica Editora +informação
	Um Pouco mais de Luz. Explicando o Eletrochoque Autor: Jorge Mota Ano: 2019 ISBN: 978-989-746-204-7 Editor: U.Porto Edições +informação
	O Bairro da Tabela Periódica Autor: Manuel João Monte Ano: 2019 ISBN: 978-989-746-210-8 Editor: U.Porto Edições +informação
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	Trajetos do Envelhecimento: Perspetivas teóricas e empíricas Coordenador: Helena Espírito-Santo, Fernanda Daniel Ano: 2019 ISBN: 978-989-26-1736-7 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Douta Ignorância. Linguagem e Diálogo: O poder e os limites da palavra em Nicolau de Cusa Autor: João Maria André Ano: 2019 ISBN: 978-989-26-1751-0 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	O Multilateralismo: Conceitos e práticas no século XXI Autores: Sandra Fernandes, Licínia Simão Ano: 2019 ISBN: 978-989-26-1749-7 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra Vol. XXXII, Nº 1 Coordenador: José Pedro Paiva Ano: 2019 ISSN: 0872-5632 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra Vol. 49 Coordenador: José Augusto Cardoso Bernardes Ano: 2019 ISSN: 0870-0273 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Cadernos de Geografia Nº 39 Coordenador: Norberto Santos Ano: 2019 ISSN: 0871-1623 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Debater a Europa Nº20 Coordenadores: Maria Manuela Tavares Ribeiro, Isabel Maria Freitas Valente Ano: 2019 ISSN: 1647-6336 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Debater a Europa Nº21 Coordenadores: Maria Manuela Tavares Ribeiro, Isabel Maria Freitas Valente Ano: 2019 ISSN: 1647-6336 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Humanitas 73 Coordenadora: Carmen Soares Ano: 2019 ISSN: 0871-1569 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Notas Económicas nº 48 Coordenadores: Faculdade de Economia da Universidade Coimbra Ano: 2019 ISSN: 0872-4733 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Revista de História das Ideias Vol. 37 Coordenadora: Ana Cristina Araújo  Ano: 2019 ISSN: 0870-0958 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Atlantís 26 Coordenadores: Delfim F. Leão & Gabriele Cornelli Ano: 2019 ISSN: 2183-4326 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Atlantís 27 Coordenadores: Delfim F. Leão & Gabriele Cornelli Ano: 2019 ISSN: 2183-4326 Editor: Imprensa da Universidade de Coimbra +informação
	Educar Humanos num Mundo de Máquinas Inteligentes Autor: Alfons Cornella Ano: 2019 Editor: Editora da UTAD